Na denominada «era da primeira globalização», os produtos cartográficos do século XVI desempenham um papel fundamental na história das relações luso-alemãs. Estes não documentam apenas os conhecimentos geográficos na época dos Descobrimentos, mas constituem testemunhos notáveis da cultura material, transmitindo o saber cosmográfico tradicional. Um dos primeiros protagonistas que se ocupou intensamente com a investigação na área das cartas náuticas portuguesas (portulanos) do século XVI foi o sacerdote alemão Friedrich Kunstmann (1811–1867). Este ilustre canonista (historiador da igreja e do direito canónico) trabalhou, de 1841 a 1846, na qualidade de educador da princesa Maria Amélia de Bragança (1831–1853) em Lisboa onde desenvolveu intensas pesquisas científicas. Estas investigações refletem-se, sobretudo, na sua obra opulenta e magnificamente ilustrada Die Entdeckung Amerikas nach den ältesten Quellen geschichtlich dargestellt; mit einem Atlas alter bisher ungedruckter Karten (Munique, 1859). No presente artigo, para além da biografia de Kunstmann, é também apresentado, pela primeira vez, o seu património científico completamente preservado e ainda não avaliado. Este espólio, que se encontra na Biblioteca da Universidade Luís Maximiliano de Munique, contém ainda cartas extremamente interessantes de estudiosos portugueses, as quais, juntamente com as suas numerosas publicações, muito enriqueceram as relações luso-alemãs.